São Josafat Kuntzévitch, OSBM.
Perguntas e respostas.
Uma das questões que frequentemente se transformam em disputas entre católicos e ortodoxos é a canonização do arcebispo greco católico Josafat Kuntzévitch, canonização esta que ocorreu duzentos anos após sua morte em 1867 pelo Papa Pio IX. O fato é que Josafat é diversas vezes acusado de comportamento não cristão, proselitismo violento, uso de “recursos administrativos” na difusão da União na antiga Comunidade polonesa-lituana e confisco de santuários. É realmente esse o caso e por que os católicos veneram Josafat como um santo?
É necessário falar já de início sobre as características dos problemas religiosos no século XVII – época em que o Arcebispo Kuntzévitch foi assassinado. O historiador ucraniano Viktor Zaslavskyi considera “um dos passatempos favoritos da época” os apelos ao tribunal, acusações fantásticas, escrever queixas em livros especiais da cidade, dos quais os pesquisadores hoje fazem diversos estudos. Além disso, as questões religiosas eram frequentemente resolvidas por métodos mais decisivos, os incidentes de massacres sangrentos contra pregadores, padres e bispos de outras religiões. “Assim, considerar as ações e pensamentos de São Josafat requer voltar ao contexto daqueles tempos. Época em que as pessoas consideravam as questões da fé e da Igreja tão importantes, que podiam defender os seus direitos, sua justiça com espadas, calúnias e massacres – e ao mesmo tempo acreditavam que essas atitudes eram corretas e justas” – escreve Viktor Zaslavskyi. Naquela época, o principal conflito religioso em nossas terras estava associado à proclamação, em 1596, da União de Berést, ou seja, a união das Igrejas com a Sé Apostólica. Sabe-se que a União não foi reconhecida por muitos representantes do clero ortodoxo, habitantes da cidade, pequena nobreza e cossacos. O resultado disso foi o início da luta por catedrais, igrejas, territórios, mosteiros, usando os métodos acima citados. No centro deste conflito estava o arcebispo greco católico de Polótsk Josafat Kuntzévitch, que foi alvo de inúmeros ataques e calúnias que culminaram em sua morte. (Josafat era propagador da União das Igrejas com Roma, por isso o ódio contra ele era maior).
Assim, uma das principais acusações, que continua a soar hoje contra o Arcebispo Kuntzévitch, é de que ele converteu à força os ortodoxos ao catolicismo. Mas isso não é verdade. Ele simplesmente não precisava de tais métodos. Josafat Kuntzévitch foi um pregador maravilhoso, um pastor atencioso, dedicado à salvação dos crentes e à unidade entre os cristãos. Em 1923, o Papa Pio XI dedicou-lhe uma encíclica intitulada “Ecclesiam Dei” – “Igreja de Deus”. Nesta encíclica, o Pontífice destacou o exemplo de sua santidade pessoal, vivendo na pureza e na pobreza. Além disso, o Arcebispo Josafat era altamente respeitado por suas habilidades intelectuais. Sob sua direção e redação foram publicados inúmeros textos sobre o primado de São Pedro, a unidade da Igreja e o batismo de São Valdomiro realizado na Ucrânia em 988. Também publicou um catecismo e tentou adaptar a pregação do Evangelho às peculiaridades da mentalidade da população local da época. Pio XI chamou São Josafat de “um santo bispo que incessantemente instilou a verdade por palavra e por escrito”.
São Josafat viu na união uma chance real de restaurar a outrora perdida unidade entre os cristãos, mas em nenhum momento usou de métodos violentos. Ele mesmo escreveu sobre isso, o que é confirmado por muitas fontes que formaram a base de seu processo de canonização. O Arcebispo procurou este objetivo através de um trabalho pastoral cuidadoso e do exemplo de santidade pessoal. São Josafat estava cercado de bons companheiros. O hierarca enviou seus padres para estudar em colégios jesuítas, que possuíam educação renomada, se esforçava para que o rebanho pudesse ter padres educados e bem treinados para o serviço pastoral, tendo uma boa formação espiritual, moral e intelectual. Com a ajuda de sacerdotes bem formados, São Josafat tornou a Igreja muito mais viva e capaz de servir às pessoas. Por isso, foi rapidamente reabastecido com novos paroquianos.
Quanto às menções à violenta perseguição aos crentes ortodoxos, essa informação consta principalmente dos livros de reclamações da cidade. Eles não podem ser considerados uma fonte precisa, porque qualquer pessoa podia escrever. O próprio judiciário não os levou a sério. Uma das principais fontes em que o Arcebispo Josafat é acusado de “crueldade” é uma carta do chanceler Lev Sapêha, um político talentoso e perspicaz que avaliou os assuntos da Igreja em termos de bem público. No entanto, no texto original desta carta (e não na tradução, feita com intenção difamatória), a acusação mais séria é que Josafat e seus padres “fechavam” igrejas em uma cidade – Mohêlev. Com efeito, por ordem do Arcebispo, igrejas foram abertas apenas durante os cultos e, no resto do tempo, permaneceram fechadas devido ao fato de, incitados por panfletos caluniosos, os habitantes da cidade tentassem repreendê-los de forma não amigável. “Fechando” às igrejas São Josafat cuidou da ordem e preservação dos bens de sua Arquieparquia, e este é o dever de todo pastor. “Nunca forcei ninguém a aceitar a união. Defender os direitos da Igreja (mesmo se for atacado violentamente) é minha obrigação e meu dever feito no meu juramento episcopal.” – cita o historiador Zaslavskyi usando palavras de Josafat.
Na encíclica sobre o Arcebispo Kuntzévitch, Pio XI notou que este santo amava tanto a Igreja e a fé que até sonhava com o martírio, que poderia ser o melhor sermão sobre a unidade. “Senhor, permita-me derramar meu sangue pela unidade e obediência à Santa Sé”, disse o Papa citando Josafat. E o desejo do pastor acabou por se concretizar no dia 12 de novembro de 1623, domingo, onde em Vitébsk foi cruelmente assassinado. Veio até aqui para pregar a unidade entre os cristãos através da palavra e oração. Ao contrário de muitos outros líderes religiosos da época, não tinha exército próprio e viajou por toda a sua Arquieparquia acompanhado de vários bons servos. Percebendo o perigo de uma viagem a Vitebsk, ele até ordenou que preparassem com antecedência seu túmulo em Polótsk. Em Vitebsk, o santo sofreu o martírio, do qual sabemos muito bem: foi capturado depois de se encontrar com uma multidão enfurecida e brutalmente morto.
Muito em breve, três anos depois, a beatificação de Josafat Kuntzévitch ocorreu em Roma e, em seguida, sua canonização. Hoje seus restos mortais são mantidos na principal igreja do mundo católico – a Basílica Vaticana de São Pedro, que atesta o grande respeito e valor das atividades de São Josafat. Os papas enfatizaram repetidas vezes que seu exemplo continua a ser relevante: divulgar o Evangelho por meio de palavras e atos, promover a unidade cristã e respeitar as outras religiões.
LINK: http://vsun.org.ua/?p=921
MATERIAL: be.radiovaticana.va
FONTE: http://catholicnews.org.ua
IMAGENS:
https://www.hroniky.com/news/view/17854-sviatyi-iosafat-iz-mista-volodymyra
https://ifds.org.ua/pokrovytel-seminarii.html
TRADUÇÃO: Pe. Estefano Wonsik, OSBM.